sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O VALOR ECONÔMICO DO CONHECIMENTO



Artigo acadêmico feito por mim e entregue em agosto de 2005 ao professor de Filosofia e Administração da Universidade Federal Fluminense sobre o tema proposto - Economia do Conhecimento. Já faz uns bons anos, mas coloco a título de curiosidade para apreciação e crítica.

Atualmente, a crença que os mais valiosos bens da sociedade são informação e conhecimento encontra-se amplamente difundida e discutida graças aos próprios.

Estamos vivenciando uma nova era em que a tecnologia da informação e da comunicação ocupam lugar de destaque. Esta pode ser classificada de pós-industrial, isto é, o modo de desenvolvimento no qual a geração de riqueza encontrava-se na produção em massa de bens pertence ao passado. A produção continua existindo, porém em outros e mais complexos moldes.

A quantidade de informação e conhecimento impregnada nos produtos é grande. A matéria está cheia de informações. Sempre esteve, contra-argumentariam alguns, porém é fato que a quantidade de informação aumentou muito e que houve uma grande flexibilização e diversificação da produção industrial. Sendo assim, hoje podemos dizer que a matéria está saturada de informações.

Obviamente, continuamos e continuaremos negociando bens materiais, mas esses são produzidos por idéias - que somam valor à matéria - e que a cada dia necessitam de processos mais complexos de pesquisa e desenvolvimento. Os produtos agregam cada vez mais conhecimento. Existe uma vasta coordenação entre agenciamento de competências e encargos informacionais. Uma vez que estamos vivendo numa economia que gira em torno de informações e idéias, podemos chama-la de Economia Informacional ou Economia do Conhecimento.

O uso e transmissão do conhecimento não representa uma perda para o transmissor. O uso de uma informação não deprecia nem destrói, pelo contrário, aumenta-lhe o valor. Isso torna o conhecimento e a informação bens econômicos não-clássicos.

Do ponto de vista monetário, a Economia do Conhecimento envolve a tendência de agregar informações e serviços ao processo produtivo, de tal forma que o preço dos produtos manufaturados não guardam relação direta com custos de produção, mas sim com o conhecimento impregnado naquele produto e com as atividades de comunicação com o mercado. Como exemplo, pode-se apontar que “apenas 3% dos custos totais de um processador Intel é imputado aos materiais e ao processo produtivo, enquanto os 97% restantes são atribuídos à tecnologia e aos serviços agregados”. Apesar disso, a lógica informacional não neutraliza nem substitui completamente a industrial. A Economia Industrial e a Economia do Conhecimento se complementam e interagem. Misturam-se.

Desde a ascensão da Economia do Conhecimento, surgiram diversas empresas que sobrevivem ou pelo menos retiram a maior parte de seus rendimentos nos bens não-duráveis. Universidades, laboratórios públicos e privados registram patentes, vendem seus serviços intelectuais, mesclando cada vez mais esse trabalho com as atividades da comunidade científica.

Falamos sobre Economia do Conhecimento, mas ainda não foi mencionado seu "combustível propulsor": a inteligência. A inteligência é a produção de idéias a partir de idéias e informações a partir de informações.

O conceito de idéia é abstrato, pois podemos encontrá-la exatamente igual sob diversas situações e circunstâncias diferentes. Entretanto podemos definir idéia com coisas simples como uma teoria, um soneto, uma melodia ou até mesmo um software. Para uma idéia se tornar coletiva, basta coloca-la num endereço na rede. Desta maneira, ela fará parte da chamada inteligência coletiva – inteligência que é de domínio público. A informação por sua vez surge do choque de certas associações de idéias que todos temos na memória com alguma idéia captada na Inteligência Coletiva. Desta maneira, podemos dizer que a idéia corresponde à memória e a informação à percepção.

Na Economia do Conhecimento, as idéias e informações têm grande valor financeiro. O dinheiro pode ser utilizado para explorar idéias, bem como incentivar a criação das mesmas. Já as idéias podem ser usadas para atrair incentivos. Portanto, existe certa equivalência que transforma idéia em dinheiro e vice-versa.

Graças à finitude do ser humano, todas as coisas têm um valor, um preço, e é nossa a atribuição dos valores às coisas, o que vale mais ou menos. É atribuído também à nossa mortalidade a existência da inteligência coletiva. Se fôssemos imortais, não haveria a necessidade de passarmos nossos conhecimentos adiante ou mesmo de transmiti-los no ciberespaço para que nossos conhecimentos não morram conosco.

Se não houver uma circulação contínua entre memória, percepção e ação, não há inteligência. Com a idéia, a informação e o dinheiro, temos as três dimensões da cognição coletiva. O raciocínio é bem simples: A idéia atrái o chamado capital financeiro de risco que sabe que ela o fará crescer, porque boas idéias geram dinheiro. Sem idéias é impossível ganhar dinheiro. O dinheiro por sua vez é o combustível de exploração dessa idéias. A informação, fechando o círculo, alimenta a eclosão das idéias.

O conhecimento coletivo estimula a produção de novas idéias. Sob este aspecto, parece que o conhecimento coletivo(bem representado pela internet) é benéfico em todos os sentidos, porém isso não é verdade. O conhecimento coletivo apesar de ser utilizado nos debates dos grandes problemas da comunidade mundial, também é utilizado para fins bélicos e outros pouco ortodoxos o que gera um conhecimento maléfico à humanidade.

Enfim, vivemos na civilização da inteligência coletiva, na qual a agressividade humana tende ser extinta devido à cada vez mais intensa competição econômica. O valor do conhecimento esta cada vez mais em alta, o que em breve fará com que nossas guerras bélicas se tornem guerras intelectuais, nas quais ninguém estará satisfeito com o conhecimento que tem.

Cayo Matheus Ferro

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